Aos 78, ator confessa que, por 10 anos, odiou seu filme de maior sucesso
Nova York, dezembro de 1971. Uma limusine para na calçada do Algonquin Hotel. No banco de trás está Malcolm McDowell, o carismático enfant terrible do cinema indie, recém-saído daquele que seria o maior papel de sua carreira: o cruel e polêmico Alex DeLarge, de Laranja Mecânica À sua espera estava Anthony Burgess, autor do livro em que Stanley Kubrick baseou seu roteiro.
50 anos depois, aos 78, em entrevista aMark Beaumont para o NME, McDowell não esconde seu trauma.
Nos primeiros 10 anos depois que fiz isso, fiquei ressentido. Eu estava farto. Eu não queria falar sobre essa p*rra, eu estava superando. Eu disse: 'Olha, sou um ator, tenho que desempenhar um grande papel, estou seguindo em frente'. Então, percebi que era uma obra-prima e eu era parte, muito parte dela. Você pode muito bem apenas aceitar e se divertir.
Parte do trauma do ator vem do fato de ter interpretado um personagem tão violento em um filme tão violento. E também do fato, que já sabemos muito bem, de que Kubrick é um diretor exigente. E muito. A famosa cena em que Alex é submetido ao tratamento Ludovico foi gravada 39 vezes - seus olhos chegaram a ser anestesiados para aguentar os longos períodos de gravação.
Uma semana depois, [Kubrick] diz: 'Eu vi todas as coisas e é ótimo, mas preciso de um close-up real do olho.' Então eu tive que voltar e fazer de novo! Isso foi uma tortura porque eu sabia o que esperar... mas, você sabe, valeu a pena.
McDowell também relembra suas conversas com Kubrick, como o diretor estava com dificuldades de encontrar o Alex DeLarge perfeito e como foi depois de assistir Se... que teve certeza de que McDowell era quem procurava: "Encontramos nosso Alex", disse Kubrick à Christiane, sua esposa.
Se..., vencedor Grand Prix do Festival de Cannes em 1968, foi o filme que marcou a estreia de McDowell nos cinemas. Alguns anos depois, o ator confessa que perguntou a Kubrick por que ele lhe escalara para Laranja Mecânica. "Você pode exalar inteligência na tela", foi a resposta.
Por fim, McDowell dá seu veredicto.
Você faz um filme assim, é histórico e você o coloca no cofre. Você não pode viver disso, e certamente sou uma pessoa muito diferente do que era quando o fiz. Eu era uma criança, você sabe. Mas estou feliz por ter feito isso? Absolutamente. É notável.