Diretor de Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída, revela segredos dos bastidores do longa... 41 anos depois
Em comemoração aos 41 anos da estreia de Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída, a A2 Filmes levará o clássico alemão novamente aos cinemas, em cópia remasterizada. A estreia é nesta quinta-feira (28). O drama biográfico se passa na Alemanha dos anos 1970, em uma Berlim ainda segregada pelo muro erguido em meio às disputas da Guerra Fria. É neste contexto que conhecemos Vera Christiane Felscherinow, e mergulhamos na comovente e aterrorizante decadência de sua saga.
Quatro décadas após o lançamento, que aconteceu em 1981, o diretor alemão Uli Edel conta que o projeto quase não saiu do papel; confessa que tinha dúvidas se realmente deveria gravar a adaptação do livro de Kai Hermann e Horst Rieck. Foi quando conheceu Christiane F. herself que tudo mudou. "Fiquei muito surpreso porque no livro ela era mostrada quase sempre como vítima, mas quando a conheci pessoalmente, achei que ela era uma pessoa bem forte."
De fato, as gravações contaram com momentos difíceis. "Esse submundo, esse lado sombrio da sociedade... foi isso que eu quis revelar", diz sobre as locações em Berlim, onde se deparou com dependentes químicos, incluindo crianças, comprando drogas em espaços públicos e movimentados. "Tudo parecia muito natural para quem passava por ali, isso me deixou mal".
Quem deu vida à Christiane F. foi a jovem Natja Brunckhorst, que também enfrentou o choque de realidade, como contou em 2021 ao The Guardian.
"Teve um momento em que percebi a realidade. Foi na cena que filmamos em Kufürstentrabe, no ponto da prostituição infantil. Me disseram: 'Natja, vai parar um carro e você vai entrar nele'. Veio um carro, eu me aproximei quase entrando, quando vi a equipe correndo na minha direção. Vi que tinha algo errado. Era um cliente de verdade. E eu quase entrei naquele carro".
Para a escolha de Brunckhorst, aliás, Edel revela que foram cerca de mil entrevistas até encontrá-la, já que optou fazer o filme exclusivamente com amadores. "Visitei a maioria das escolas de Berlim, entrei nas classes e disse aos professores e diretores que estava procurando crianças para filmar".
Na entrevista ao The Gardian, Brunckhorst já havia dado detalhes da seleção.
"Uli Edel e sua equipe foram até a minha escola. Eu estava sentada comendo uma maçã. Um assistende dele veio até mim e disse: 'Nós estamos procurando garotas para um filme. Você quer tentar?'. E eu disse: 'Ok, já que você me perguntou, eu vou'".
Edel conta que Natja era uma jovem tímida, que gaguejava e mal encarava as câmeras.
"Mas quando a câmera focou nela, ficamos todos hipnotizados com sua interpretação e com quão convincente ela era, se aproximando do que entendi como a verdadeira Christiane F".
Edel relembra também uma das polêmicas que envolveu o lançamento de Christiane F., em 1981: a escolha do diretor em escalar usuários de droga reais como figurantes. Para ele, foi um dilema. "Muitas vezes eu dizia: 'Fiquem aí, podem fazer figuração, vamos lhes pagar alguma coisa’. Mas era um conflito, sim, e ainda fico arrepiado de pensar nisso", diz.
"Acredito que o único ator profissional é o David Bowie", diz o cineasta sobre a participação especial do cantor britânico. É ele quem assina a trilha sonora, composta por sucessos de sua Trilogia de Berlim, que incluiu os álbuns Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979). A cena em que Bowie canta Station to Station é uma das mais emblemáticas do filme.
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